Que engraçado! Ainda ontem em visita à um novo amigo que me mandou seu livro de presente levei um livro para retribuir o gesto de carinho. Justifiquei-me por ter levado um livro de autoria alheia pois não tinha nenhum livro escrito. Pensei que também não pretendo ter filhos, mas que ao menos quando criança plantei árvores! Então me pus a escrever e mesmo não sendo um livro, somente algumas despretensiosas linhas para uma crônica, não deixa de ser irônico!
E tudo porque ultimamente tenho lido e escutado com frequência, nos mais diversos formatos, de variados autores temas nostálgicos frequentes. É verdade que sempre tive um pé no passado: Buscar referências culturais e familiares foi muito importante na minha formação. Mas parece que nos últimos tempos as pessoas andam com necessidade crescente de buscar um zeitgeist, para usar uma palavra alemã que apreendi recentemente e que resume bem esta busca por características culturais diversas que remontam à outras épocas.
É uma crítica de gastronomia que afirma receber enxurradas de e-mails quando fala de qualquer sabor do passado. Uma série de crônicas lidas em veículos diversos onde os autores fazem referências constantes às cidade de outrora, à mãe ou a saudosos amigos, à filmes, músicas ou livros antigos, aos tempos de infância.
Outro dia, no meu escritório de arquitetura, ouvi de uma jovem cliente que queria um tecido com cara de “casa de vó” para suas cadeiras. E de repente a casa do século XXI, que imaginávamos clean e tecnológica, vira retro!
Fiz uma pausa. Liguei para o celular da minha avó. Quero saber se no passado – ela faz 95 anos daqui poucas semanas – as pessoas eram tão saudosistas. Ela rapidamente respondeu:
“O progresso traz muita insatisfação. Antigamente tínhamos menos necessidades. A vida era boa como estava. Hoje a todo instante queremos o que aparece de novo. É uma pergunta difícil, cada época tem seus encantos, mas não lembro das pessoas fazerem tantas referências ao passado.”
Conversa vai conversa vem, ela que está numa casa de praia alugada para a temporada, conta que está servindo jantar para seus bisnetos e meus primos e que um deles veio com a namorada nova. Eu pergunto: Que tal? Ela responde: “Bonita moça! Cursa o quarto ano de medicina, mas é melhor não se apegar porque daqui a pouco ele troca por outra qualquer e a gente sente falta, fica com saudades!”
Taí! Hoje sentimos falta e temos saudades até do que não conhecemos direito. É um vazio que talvez seja mais reconfortante preencher com referências do passado do que com o último celular ou outro gadget lançado no mercado.
* Texto escrito por Maria fernanda Pereira em 23/02/2013. Este ano minha avó já comemorou 100 anos em março, meu primo faz algum tempo já terminou com a namorada e no escritório continuamos fazendo projetos de lares que procuram respeitar e contar a história de nossos clientes.
*Foto destaque: Anna Paula Lima