Paris Design Week, Maison & Objet, Noronha e Neri Oxman
De lá para Paris foi um pulo e já na cidade luz, sob tema “Híbrido”, a miscigenação de produtos, tendências e soluções convida à reflexão sobre o uso e consumo. Da Maison & Objet passando pela exibição com curadoria de Rossana Orlandi, na BHV Marais, por várias instalações espalhadas pela capital francesa e pela mostra AD Intérieurs foram muitas as propostas e descobertas pela cidade durante essa semana.
Esta edição da feira Maison & Objet estava dividida em 7 setores dos quais foquei nos pavilhões Forever e Today que tinham foco em móveis e objetos clássicos e tendências para casa e escritórios, trazendo fornecedores franceses e internacionais e uma gama de produtos selecionados e design exclusivos. O questionamento sobre o universo do trabalho, a polivalência dos espaços e a declaração de óbito da mesa de trabalho, como a utilizávamos até pouco tempo, dá lugar a novas experimentações e possibilidades de produção, sem perder a eficiência. Estamos preparados para conceber propostas para esta nova realidade? Já entre os produtos de alta gama apresentados na feira, fiquei literalmente vidrada pelos vasos da Guaxs, objetos esculturais e utilitários contemporâneos, que trabalham o vidro com técnica e delicadeza sem igual.
Na AD Intérieurs, a seleta mostra, que pode ser comparada à Modernos Eternos de São Paulo; os profissionais participantes, selecionados pela revista francesa de mesmo nome, dosaram com exatidão a medida entre ousadia e sofisticação e apresentam ambientes de estilos variados, conceituais e surpreendentes. Aqui também destaque para Laura Gonzalez, nome onipresente na mídia parisiense este ano, em voga por seu estilo Mix & Match, que mescla com perfeição desde estampas maximalistas, elementos retros, clássicos e contemporâneos, até luzes e cores.
Entre os diversos percursos possíveis dos eventos da semana que pipocaram pelos quartiers parisienses, foi sensacional andar pelo quartier Vertbois. Foi uma delícia constatar que a região abrigada entre o Museu des Arts & Métiers e a Place de la République, justamente onde morei 20 anos atrás quando lá cheguei para estudar arquitetura, se tornou uma região inovativa, cheia de jovens designers, ateliers, galerias e lojas de design.
Por fim visitei no Grand Palais, o evento La Biennale Paris. Um salão de arte de renome mundial que reuniu antiquários e galerias exibindo peças que traçam um panorama da arte e cultura, trazendo uma seleção especial que trouxe desde elementos históricos até a produção atual, mesclando épocas e possibilitando novas formas de interação entre elas. Destaque para a Galeria Claude Bernard, que exibiu o universo vertiginoso e exuberante de Sam Szafran, um artista judeu que se utiliza de aquarelas de grande formato, tanto para a série de escadas quanto para a sua recorrente temática dos filodendros. A beleza de sua arte, talvez esteja além das obras, traçando um paralelo entre a natureza selvagem da folhagem e suas incríveis sequência de degraus, é onde encontramos tempo e subsídios para a vida acontecer.
A Natureza e Fernando de Noronha X Netflix e o Futuro
De volta, peguei o rumo para Fernando de Noronha para me conectar com a natureza, comemorar datas especiais e de quebra fazer aquela pausa necessária para absorver todas as informações. Já estava com minha seleção de preferências e tendências pronta e eis que, neste fim de semana de volta à Curitiba, assisti ao capítulo arrebatador sobre Neri Oxman, da imperdível série Abstract, do Netflix. Ter vindo de uma imersão no design e na produção contemporânea e passado por uma breve descompressão, totalmente voltada para a natureza da ilha, chegar em casa, sentar no sofá e ver Neri Oxman recriando ou será cocriando -ela sim! – nosso futuro de uma maneira que une o design à natureza de forma definitiva e cíclica, foi disruptivo.
Depois de uns dias naquela ilha voltar e escutar a proposta de ter a natureza como nossa única cliente e inverter (tod)os padrões que criamos hoje, foi um presente. Enquanto estamos preocupados em diminuir o consumo de plástico, reutilizá-lo e dar à ele novas vidas, olhar a natureza e se inspirar em suas cores e formas, a equipe de Neri no MIT está desenvolvendo biomateriais, novos sistemas construtivos que da natureza, sem passar por uma fábrica ou processos industriais tradicionais são diretamente empregados em produtos e construções. Os processos propostos por sua equipe, constantemente desafiada pela busca de soluções para problemas que em parte ainda não temos, são a evolução das tradicionais construção e montagem de espaços e objetos pelo inovador estímulo ao crescimento natural de estruturas planejadas, numa forma de co-criação com a natureza. Formas estas que, após seu tempo de vida, devem ser diretamente absorvidas de volta pela natureza, de forma biodegradável.
É a troca do paradigma atual inspirado pela natureza para um futuro que pode trazer a natureza como única e inesgotável inspiração, fonte de recursos e soluções, além de tê-la como grande foco dos nossos cuidados. Depois destas semanas repletas de informações e estímulos externos diversos ficou um desejo de que a maior tendência seja ver e respeitar nosso entorno. Para isto precisamos olhar para dentro, entender nossas reais necessidades, abrindo mão do desnecessário e buscar possibilidades para criar de forma consciente, para que o futuro e a tecnologia tenham a mesma matéria da natureza que nos cerca.
Você pode conferir a parte 1 deste texto em https://mariafernandapereira.com.br/de-sao-paulo-a-paris-o-futuro-esta-no-netflix-2/