De São Paulo a Paris o Futuro está no Netflix – Parte 2 

Paris Design Week, Maison & Objet, Noronha e Neri Oxman

De lá para Paris foi um pulo e já  na cidade luz, sob tema “Híbrido”, a miscigenação de produtos, tendências e soluções convida à reflexão sobre o uso e  consumo. Da Maison & Objet passando pela exibição com curadoria de  Rossana Orlandi, na BHV Marais, por várias instalações espalhadas pela capital francesa e pela mostra AD Intérieurs foram muitas as propostas e descobertas pela cidade durante essa semana.

Esta edição da  feira  Maison & Objet estava dividida em 7 setores dos quais foquei nos pavilhões   Forever e  Today que tinham  foco em móveis e objetos clássicos e tendências para casa e escritórios, trazendo fornecedores franceses e internacionais e uma gama de produtos selecionados e design exclusivos. O questionamento sobre o universo do trabalho, a polivalência dos espaços e a declaração de óbito da mesa de trabalho, como a utilizávamos até pouco tempo, dá lugar a novas experimentações e possibilidades de produção, sem perder a eficiência. Estamos preparados para conceber propostas para esta nova realidade? Já entre os produtos de alta gama apresentados na feira,  fiquei literalmente vidrada pelos vasos da Guaxs, objetos esculturais e utilitários contemporâneos, que trabalham o vidro com técnica e  delicadeza sem igual.

Na AD Intérieurs, a seleta mostra, que pode ser comparada à Modernos Eternos de São Paulo; os profissionais participantes, selecionados pela revista francesa de mesmo nome, dosaram  com exatidão a medida entre ousadia e sofisticação e  apresentam ambientes de estilos variados, conceituais e surpreendentes. Aqui também destaque para  Laura Gonzalez, nome onipresente na mídia parisiense este ano, em voga por seu estilo Mix & Match, que mescla com perfeição desde estampas maximalistas, elementos retros, clássicos e contemporâneos, até luzes e cores.

Entre os diversos percursos possíveis dos eventos da semana que pipocaram pelos quartiers parisienses, foi sensacional andar pelo quartier Vertbois. Foi uma delícia constatar que a região abrigada entre o Museu des Arts & Métiers e a  Place de la République, justamente onde morei 20 anos atrás quando lá cheguei para estudar arquitetura, se tornou uma região inovativa, cheia de jovens designers, ateliers, galerias e lojas de design.

Por fim visitei no  Grand Palais, o evento La Biennale Paris. Um salão de arte de renome mundial que  reuniu antiquários e galerias exibindo peças que traçam um panorama da arte e cultura, trazendo uma seleção especial que trouxe desde elementos históricos  até  a produção atual, mesclando épocas e possibilitando  novas  formas de interação entre elas. Destaque para a Galeria Claude Bernard, que exibiu  o universo vertiginoso e exuberante de Sam Szafran, um artista judeu que se utiliza de aquarelas de grande formato, tanto para a série de escadas quanto para a sua recorrente temática  dos filodendros. A beleza de sua arte, talvez esteja além das obras, traçando  um paralelo entre a natureza selvagem da folhagem e suas incríveis sequência de degraus, é onde encontramos tempo e subsídios para a vida acontecer.

A Natureza e Fernando de Noronha X Netflix e o Futuro

De volta, peguei o rumo para Fernando de  Noronha para me conectar com a natureza, comemorar datas especiais e de quebra fazer aquela  pausa necessária para absorver todas as informações. Já estava com minha seleção de preferências e tendências  pronta e eis que, neste  fim de semana de volta à Curitiba, assisti ao capítulo arrebatador sobre Neri Oxman, da imperdível série Abstract, do Netflix. Ter vindo de uma imersão no design e na produção contemporânea e passado por uma breve descompressão, totalmente voltada para a natureza da  ilha, chegar em casa, sentar no sofá e ver Neri Oxman recriando ou será cocriando -ela sim! – nosso futuro de uma maneira  que une o design à natureza de forma  definitiva e cíclica, foi disruptivo.

Depois de uns dias naquela ilha voltar e escutar a proposta de ter a natureza como nossa única cliente e inverter (tod)os padrões que criamos hoje,  foi um presente. Enquanto estamos preocupados em diminuir o consumo de plástico, reutilizá-lo e dar à ele novas vidas, olhar a natureza e se inspirar em suas cores e formas, a equipe de Neri no MIT está desenvolvendo biomateriais, novos sistemas construtivos que da natureza, sem passar por uma fábrica ou processos industriais tradicionais são diretamente empregados  em produtos e construções. Os processos propostos por sua equipe, constantemente  desafiada pela busca de soluções para problemas que em parte ainda não temos, são a evolução das tradicionais  construção e montagem  de espaços e objetos pelo inovador estímulo ao crescimento natural de estruturas planejadas, numa forma de co-criação com a natureza. Formas estas que,  após seu tempo de vida, devem ser diretamente absorvidas de volta pela natureza, de forma biodegradável.

É a troca do  paradigma atual inspirado pela natureza para um futuro que pode trazer a natureza como única e inesgotável inspiração, fonte de recursos e soluções, além de tê-la como grande foco dos nossos cuidados. Depois destas semanas repletas de informações e estímulos externos diversos ficou um desejo de que a maior tendência seja ver e  respeitar nosso entorno. Para isto precisamos olhar para dentro, entender nossas reais necessidades, abrindo mão do desnecessário e buscar possibilidades para criar de forma consciente, para que o futuro e a  tecnologia tenham a mesma matéria da  natureza que nos cerca.

 

Você pode conferir a parte 1 deste texto em  https://mariafernandapereira.com.br/de-sao-paulo-a-paris-o-futuro-esta-no-netflix-2/

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